sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Devaneios no Firmamento - Como é Difícil Cultivar Amigos

     Como é difícil cultivar amigos...


     Sempre fui o tipo de pessoa que as pessoas correm atrás... Não, não estou querendo me gabar, ou me engrandecer. Não é que todo mundo corresse atrás de mim, não é isso, mas as pessoas que tinham interesse em mim, amigos, familiares, sempre foram eles a me procurar. Não é que eu não sentisse saudades, ou não sentisse falta. Mas sempre tive dificuldade em ter esse tipo de iniciativa.
     Essa atitude fria me tirou muita gente... E não é que eu não tenha sofrido com isso. Sofri, pra caramba. Eu me lembro de muita gente, que eu adorava e foi embora, e eu, simplesmente deixei ir. Mas eu fico me perguntando às vezes. Quanto tempo mais, eu vou permitir que isso continue a acontecer sem fazer nada?
     Eu estava aqui hoje, organizando meus e-mails pessoais antigos, e encontrei alguns, alguns que me deixaram deprimida! Eu tive amigos. Amigos que me valorizavam de verdade. E não é que eu não os valorizasse. Eu os valorizava demais. Só que eles nunca souberam disso! Eu me arrependo.
     E lembro de um amigo. Ele tinha todo um jeito frio de lidar com as pessoas, e ele também tinha dificuldades em demonstrar seus sentimentos, mas isso era só no começo. Depois que ele se afeiçoava a uma pessoa, ele se tornava mais e mais verdadeiro. Era assim que eu o via. Era alguém que, eu acreditava, jamais mentiria pra mim. Eu acreditava na franqueza dele. Eu me lembro da última vez que esteve na minha casa. Foi em maio de 2002. Eu estava grávida do meu primeiro filho. Ele me disse algo que eu nunca vou esquecer. Ele me disse que eu lhe fazia falta, por isso ele me procurava. E mesmo assim, mesmo depois de ter me dito isso com tanta franqueza, eu não fui capaz de ligar uma única vez pra dizer que sentia saudade. E assim o tempo foi passando, a saudade aumentando, mas... Uma relação não pode se sustentar em um único lado, não é mesmo? Eu me lembro da última vez que o vi. Eu sei que ele havia me reconhecido, mas sei também, que se não tivesse tomado a iniciativa, ele teria passado reto, como sempre foi da personalidade dele. Jamais cumprimentar alguém que não o cumprimente primeiro. Isso poupa constrangimentos e eventualmente, mágoas. Mas eu o abracei. Eu o abracei como se tivesse sido ontem, e aquilo me fez muito, muito feliz.
     Eu me lembro de um amigo. E de como ficava feliz quando ele me chamava de “guriazinha” e sorria aquele sorriso, que era tão aquecedor. Eu me lembro, quando ele me mandou uma mensagem de texto, pedindo que eu parasse de procura-lo, que eu o estava causando problemas com a sua namorada. Eu estava trabalhando quando recebi a mensagem. Eu tive de sair do trabalho, por que eu estava chorando convulsivamente. Eu chorei por uma hora ou mais. Meu noivo na época, hoje meu marido, ficou ao meu lado, tentando em vão me consolar, enquanto “eu chorava por outro homem”, como meu noivo colocou. Meu amigo nunca soube disso, eu nunca disse, hoje eu sei que deveria ter dito, deveria ter demonstrado que me importava. Meu orgulho não permitiu... E lá se foi um grande amigo... Algumas semanas depois, eu o encontrei no ônibus. Ele me cumprimentou com o mesmo “Oi guriazinha” e o mesmo sorriso quente. E eu fiquei extremamente feliz, talvez eu só tivesse entendido errado. Conversamos sobre o que andávamos fazendo e nossos planos para o futuro. Então, quando nós dizemos tchau, ele pôs a mão na minha cabeça, e disse “me desculpa”. E aquelas simples palavras doeram mais do que o todo anterior, por que elas tornavam tudo muito mais real. Eu queria ainda acreditar que a mensagem não havia sido dele, eu queria acreditar que havia um mal entendido, mas não havia. E ele me comprovou isso em duas palavras. Naquele momento senti o nó na minha garganta e os meus olhos transbordarem, mas eu desci do ônibus sem permitir que ele percebesse. E de novo eu chorei, desta vez sozinha, convulsivamente.
     Eu me lembro de uma amiga. Ela acreditava em mim. Acreditava em nossa amizade. Ela me protegeu quando eu me senti ameaçada, quando me senti insegura, ela me encorajou. Ela acreditava em meu potencial como ninguém. Juntas fizemos planos, de conseguirmos empregos, de morarmos juntas. Ela acreditava em mim. Mas eu traí essa confiança. Não, eu não menti pra ela. Eu só não fui quem ela esperava que eu fosse. Talvez, eu não tenha levado as nossas promessas, tão a sério quanto ela. E talvez, não tenha sido tão sincera quanto ela foi. Mas ela não sabia, naquela época, o quanto era difícil pra mim, dar o pouco que eu dava. O quanto era custoso, falar de mim, ser da maneira que ela queria. Eu acreditava, que aquilo era tudo o que eu podia oferecer. Eu acreditava. Ela me tomou por falsa e superficial. Hoje eu vejo, ela tinha razão. Hoje eu sei. Eu tinha muito mais a oferecer. Muito mais de mim a doar. E ela nunca soube. Eu a amava, de verdade. Eu queria ter sido capaz, de ter compartilhado tudo isso de mim, com ela. Mas eu não sabia.
     E, mesmo com toda essa minha confusão interna, eu ainda tenho amigos. Alguns poucos, que ainda não desistiram de penetrar nessa casca grossa que sou eu. E eu agradeço. Obrigada. Eu não sou fácil, e não sou simples. Mas, eu me esforço.

Um comentário:

Karla disse...

Que engraçado... eu me vi em suas palavras. Eu tb tenho um amigo do mesmo jeito, mas nós dois apesar das cascas conseguimos sempre manter contato. Já tive muitos amigos que reclamaram da minha ausência ou frieza. Tentei aos poucos melhorar tudo isso, mesmo sem conseguir. Mas hoje tb tenho outra coisa, aqueles que ficaram, são os que realmente me aceitam do modo que eu sou...
Amei o post!!!! bjs

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